terça-feira, 3 de agosto de 2010

Diversidade para a Sustentabilidade


A seguir uma matéria sobre assuntos interessantes discutidos em curso de Sustentabilidade

Palestras e trabalhos em grupo fizeram parte do programa


Grupo multicultural de jovens se reúne na Suíça para discutir desafios do planeta


Representantes de mais de vinte países dos cinco continentes se reuniram para discutir problemas e soluções sustentáveis para o planeta, em encontro sediado nos alpes suíços no último mês de julho. O YES – Youth Encounter on Sustainability (Encontro de Jovens para a Sustentabilidade) é uma iniciativa de um grupo de universidades de todo o mundo que tem como prerrogativa selecionar para os seus cursos um grupo multidisciplinar e multicultural.

Este diferencial, que faz o “charme” do curso, se traduz em jeitos diferentes de pensar o futuro e discussões interessantes sobre a tão falada (e tão pouco praticada) Sustentabilidade. Haviam representantes do Brasil, Colômbia, Egito, Índia, Nepal, Vietnã, Canadá, África do Sul, Costa Rica, Austrália, Quênia, Suíça, Suécia, Cazaquistão, Eslováquia, México, Estados Unidos, Jordânia, Inglaterra, Turquia e Paquistão.

Entre os assuntos estudados, muita informação sobre energia, disponibilidade de matérias primas, economia, água, agricultura e organização social. Abaixo, seguem alguns dos tópicos discutidos e questões levantadas:


- O crescimento da classe média em países como o Brasil e Índia aumenta consideravelmente a pressão no ambiente. Isso porque o padrão de consumo da “nova” classe média copia o da antiga classe média. É claro que ninguém está propondo que a condição de vida da população se mantenha baixa, mas sim uma revisão nos padrões de consumo. Qual é a relação real entre qualidade de vida e consumismo?


- Às vezes uma melhoria para o ambiente tem efeito contrário ao esperado. É o “rebound effect” (algo como “efeito de repercussão” em português). Quando inventaram a lâmpada de filamento, estas eram quatro vezes mais econômicas que as que foram substituídas. As companhias elétricas estavam preocupadas com a nova tecnologia, com medo que o consumo caísse drasticamente. Porém, o que aconteceu foi o contrário. Com a tecnologia mais barata e acessível, muitos novos consumidores podiam pagar pela eletricidade, aumentando ainda mais o consumo.


- Outro conceito interessante é o de "Exponencial Growth" (Crescimento Exponencial). Significa que se você fizer um gráfico de crescimento x tempo, verá uma curva incrivelmente inclinada para cima a partir de um determinado momento. Isso ocorre, por exemplo, com o crescimento da população, com o aumento da demanda energética e com o aumento da temperatura do planeta. Em resumo, quase tudo está crescendo muito rápido e em muito pouco tempo.


- A dependência energética foi incansavelmente discutida. Se hoje quase tudo funciona na base do petróleo, o futuro mostra algo diferente. Segundo projeções da conservadora International Energy Agency - Agência Internacional de Energia (www.iea.org), as reservas de petróleo não durarão muito tempo. Hoje já existe muita gente falando no "Peak Oil" (Pico do Petróleo), numa alusão ao ponto mais alto de uma curva descendente de produção de barris/dia. Alguns ativistas como a escritora Diana Leafe estão dizendo que já chegamos pelo menos na metade das reservas disponíveis. Segundo ela, a questão não é que o petróleo vai acabar. O problema é que ele vai ficar bem mais caro, ainda mais porque a demanda de energia é exponencial, aumentando a cada dia.


- É normal que se compre uma fruta no Brasil importada de outro país, mais barata, quando o mesmo produto pode ser encontrado aqui? Será que não há nada errado com isso? Produtos altamente subsidiados pelos governos institucionalizam o comércio injusto, criando verdadeiros monopólios de megacompanhias agrícolas. Subsídios tem influência determinante sobre o preço de alguns produtos. É o caso das calorias baratas vendidas em forma de gordura saturada em hamburguers, batatas fritas e refrigerantes em lugares como os EUA. Lá é mais barato comprar um combo numa cadeia de lanchonetes do que se alimentar com frutas e verduras (ver filme Food Inc., a ser lançado em breve). Se o Brasil não ficar esperto, o mesmo vai acontecer por aqui.


- Apesar disso, a Agricultura Orgânica vai ganhando o seu espaço. Em muitos países da Europa já é possível dizer que existe uma massa crítica que vem dando suporte ao crescimento de orgânicos. A variedade é tanta que dá até pra comprar pasta de dente feita com ingredientes produzidos organicamente. Na Suíça a produção orgânica representa pelo menos 10% do total.


- Uma barreira ao crescimento dos orgânicos é o preço: é mais caro encher um carrinho com estes produtos do que com os convencionais, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Uma explicação pra isso é porque a produção é mais artesanal; outra é porque a necessidade de certificação dos produtos aumenta o preço final para o consumidor; outra ainda é porque estes produtos tem menos recursos para pesquisas e desenvolvimento do que os convencionais, influindo no preço.


- Com o fator peso-no-bolso, ainda não são muitos os que se propõem a levar muitos itens orgânicos para casa. O consumidor determinado a se alimentar melhor muitas vezes tem que escolher entre alguns produtos e levar em consideração algumas informações para essas escolhas. É sabido por exemplo que o tomate e o morango, por terem a pele fina, são generosamente pulverizados com pesticidas. Logo, induz-se que é melhor priorizar estes se tivermos que fazer escolhas. Mas e a cenoura, que cresce embaixo da terra? Qual é o nível de contaminação a que está exposta? Onde o consumidor pode procurar este tipo de informação?


- O fato é que muita gente está produzindo orgânicos há milênios e nem sabem que agora alimentos produzidos naturalmente levam esse nome e esse frisson. O interior do Brasil está cheio de gente assim. Mesmo na Europa em regiões montanhosas, naturalmente isoladas, é mais comum encontrar a produção orgânica. Uma das principais razões para isso é que o relevo acidentado dificulta mecanizar a produção. Tem que ser tudo “no braço”, mesmo.


- Pensando sobre decisões, é interessante ver como os suíços lidam com a democracia. Todos votam a pelo menos cada dois meses, recebendo uma lista de assuntos pra decidir. Na região conhecida como Glarus, uma vez ao ano pelo menos uma pessoa de cada casa vai pra praça pública votar, levantando a mão pra cada assunto. A coisa funciona mais ou menos como os nossos plebiscitos (lembra daquele sobre a legalização de armas?), só que permanente. Cada cidadão tem que ficar informado sobre os lados de cada questão pra não arrepender depois, por isso é comum ver nas ruas e no comércio todo tipo de gente discutindo os assuntos.


- Não é nenhuma novidade, mas vale nota: uma das coisas mais insustentáveis que existem é a Corrupção. Estritamente do ponto de vista de aproveitamento energético (recursos investidos e retorno obtido), não existe desperdício maior.


- Só pra terminar com mais uma questão: por quê a taxa de suicídio em países como a Suécia e a Suíça é uma das maiores do mundo, se são lugares com alta qualidade de vida? Será que é o clima? Será que faltam desafios aos jovens? Por que a vida se torna insustentável a ponto de alguém querer tirá-la?

Guilherme Vancura é jornalista e vem se dedicando a conhecer e difundir referências sustentáveis. Foi o representante do Brasil no YES 2010.


Follow up an articule about interesting issues on the Yes Sustainability course


Hotel at Braunwald: Swiss Alps inspired discussions

Diversity for Sustainability

Young, multicultural group gather in Switzerland to discuss Sustainability

More than 20 countries of the 5 continents were represented to discuss sustainable problems and solutions to the planet, in a meeting in the swiss alps last July. The YES – Youth Encounter on Sustainability is a initiative of a pool of universities around the globe that selects a multidisciplinar and multicultural group to it´s courses.

This differential, that brings “charm” to the course, is translated in many different ways on thinking about the future and very interesting discussions on the overtalked (and underpracticed) Sustainability. There were representants of Brazil, Colombia, Egypt, India, Nepal, Vietnam, Canada, South Africa, Costa Rica, Australia, Kenya, Switzerland, Sweden, Cazaquistan, Slovaquia, Mexico, United States, Jordan, England, Turkey and Paquistan.

Some issues deserved a lot of attention, like Energy, Availability of Raw Materials, Economy, Water, Agriculture and Social Organization. Below, a selection on some of the most interesting topics discussed:

- The soaring of the middle class in countries as Brazil and India increases the pressure over the environment. That´s because the consumption standards of the “new” middle class follows up the “old” middle class patterns. Of course nobody is suggesting that life conditions of the population keep low, but a revision of the consumption standards. What is the relationship between quality of life and consumption?

- Sometimes an improvement to the environment has an opposite effect as expected. That´s the “rebound effect”. When the filament lamp was invented, it were about 4 times more economical than the old ones. The power companies were concerned about the new technology, afraid of a possible decrease of the energy consumption. Actually, what happened was the opposite: the filament lamps were cheaper, allowing a big number of new consumers, and the demand on electricity power increased even more.

- Another interesting concept discussed was the “Exponential Growth”. It means that in a graphic of growing X time, you´ll see a curve amazingly inclined up in a short period of time. That happens, for example, in a graphic of population increase, growing of energetic demand and with the average temperature of the planet. In a few words, almost everything is growing abrupting in an exponential way.

- Energetic dependency discussions were such a fascinating issue. If today almost everything runs on oil, the future shows something different. According to the conservative International Energy Agency (www.iea.org), the oil supply will not last longer. Nowadays there are many people talking about the Oil Peak, mentioning the highest point in a descendent curve of production in barrels/day. Some activists as the writer Diana Leafe are even saying that we already hit at least the half of available oil. The big question is that the oil is not going to finish, but it will become much more expensive, considering that the demand is increasing everyday.

- It should be considered normal that you buy a fruit in Brazil imported from another country, even if the same product could be bought in the country? That´s nothing wrong with that? Highly subsided products by the government institucionalize the unfair trade, creating monopolies of agricultural megacompanies. Subsides have an influence over the prices of some products, making some of them cheaper than the others. That´s what happens, for example, on the calories sold in saturated fats as hamburgers, fries and soda in places such USA. In those countries, it´s cheaper to buy a combo in a Mac Donalds restaurant than to buy fruits and vegetables (see the movie Food Inc., to be released soon). If Brazil don´t pay attention on it, the same will happen here.


- Despite of it, organic agriculture is achieving more consumers. In many countries of Europe is possible to say that exists already a critical mass supporting the increasing on the organics, buying from food to toothpaste. In Switzerland the “bio” production is responsible for at least 10% of the total.


- A barrier to the soaring on the organics is the price: it´s more expensive to fill up your cart with those products if make a comparison to the regular ones, in Brazil or anywhere else in the world. A common explanation for that resides in the fact that the growing is artisanal; some other people say that the need to certificate it increases the final price for the consumer; organic farmers also claim that organics have less resources for research and development than the conventional products, also affecting the price.


- Considering the price factor, not many people choose to take organics home. Many times, the consumer have to choose between some products and take into consideration some useful information. It´s known, for instance, that tomatoes and strawberries are well pulverized with pesticides, because of their thin skin. So you can induce that is better to priorize those items if you have to choose. But what about the carrot or potatoes, wich grows under the earth? What about it´s level of contamination in exposure to pesticides? Where the consumer can look for that sort of information?


- That fact is that many people are producing organics in thousands of years and they don´t even know that now naturally production food have this name and this frisson. The interior of Brazil has many people doing it. Even in Europe, in the mountains, naturally isolated areas, is easier to find an organic production. In rugged areas is hard to mechanize production, so everything have to run in a manual way.


- Talking about deciding, that´s really interesting to observe how swiss people deal with democracy. Everybody votes at least once in every two months, receiving a list of issues to decide on. In Glarus canton, once a year at least one person of each house goes to public square to vote, raising a hand for each issue. It´s very alike the plebiscite votation in Brazil, but much more frequently. Each citizen have to be informed about the issues and the consequences of the votation, that´s why is easy to see people in the streets discussing about the subjects.


- No news about it, but it´s good to point out: one of the most unsustainable things ever is Corruption. Strictly from the energetic recovery point of view (invested resources and obtained regress), there is no bigger waste.


- Just to finish with one more question: why the suicide tax in countries as Sweden and Switzerland is one of the biggest in the world, if such places have one of the highest quality of life levels? Is it the weather? Is there any lack of challenges? Why life becomes so unsustainable to make someone from his own will, take it away?


Guilherme Vancura is a journalist and is dedicated to know and spread sustainable references. Represented Brazil in YES 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário